Um dos únicos lugares que temos frequentado aqui em casa no último ano é o supermercado. Invariavelmente, tem gente na porta, gente que vive na rua e é obrigada o tempo todo a submeter a dignidade à sobrevivência. Em uma das últimas vezes, minha companheira foi sozinha. E ouviu o pedido por uma bolacha. Nós … Continue lendo Sexta-feira
Categoria: Crônicas
Lambe-lambe
Ontem completou-se um mês de greve nas escolas municipais. Como forma de marcar a data, saímos, duas professoras e eu, para colar lambes perto dos pontos de ônibus da região central de São Paulo. Corrigindo: duas professoras, eu e a cachorra, que foi junto aproveitar o passeio. Convivo há muitos anos com o centro. Morei … Continue lendo Lambe-lambe
Sobre escolas e desejos de volta
Existe um grupo de pessoas no Brasil, que alguns veículos de mídia chamam de movimento e dizem ter mais de 150 mil membros, que defende que as escolas deveriam permanecer abertas, mesmo nos piores momentos de contágio da pandemia de covid-19. O nome que esse grupo de pessoas assumiu para si é "Escolas Abertas". Os … Continue lendo Sobre escolas e desejos de volta
O professor e as covas
Sou professor há quase 20 anos. Num agora longínquo 2002, recém ingresso na faculdade, eu nem sonhava em exercer essa profissão. Queria escrever, como sigo querendo. Mas um convite de um amigo pra assumir suas aulas de inglês em um supletivo, três meses apenas, me pareceu uma boa experiência. Eu não tinha nenhuma formação em … Continue lendo O professor e as covas
Caldo de cana
- Esse corte de cabelo aí tá voltando pra moda, né. - É? Não sei, cortei porque tava calor. - Aquele menino do Big Brother fez de novo, tá voltando sim. - Ih, não assisto Big Brother, não sei viu. - Como que chama mesmo? Jamaicano? - Moicano. - Isso. - Eu usava assim quando … Continue lendo Caldo de cana
O que aprendi em Belém
No século XXI, entrar num avião, dormir algumas horas e descer em outra cidade traz paisagens novas, costumes diferentes, mas os mesmos referenciais urbanos: a farmácia, a igreja, o restaurante, o shopping center. A globalização trouxe consigo uma homogeneização dos lugares, pelo mundo todo. Quando embarquei para Belém, então, capital de estado, cidade grande, esperava … Continue lendo O que aprendi em Belém
Eduardo e Heverton
Quase de férias, a quinta-feira torna-se possibilidade pra uma cerveja. Sentamos no bar perto de casa e desabafamos sobre a vida, o trabalho e as novas velhas notícias do pessoal lá de cima. Na direção oposta à minha cadeira, vejo uma pessoa vindo, descalça, enrolada em um daqueles cobertores típicos para pessoas em situação de … Continue lendo Eduardo e Heverton
Formatura
Para existir uma borda, também tem que haver um centro. Quando esse centro força os limites da borda, procurando ganhar terreno, algumas coisas podem acontecer: ou a borda se rompe, ou se afasta para ainda mais longe do centro, ou deixa de existir, atropelada pelo processo de expansão. Eu poderia estar falando de geometria, química, … Continue lendo Formatura
Paisagem
"Cheira pólvora, chão de mármoreVê que agora, há quantas árvores?" D. G., 16 anos, olhou pra cima e viu as copas. Não aquelas que ele sonhou ganhar com a camisa amarela do Brasil. Outras copas, verdes, que de noite não pareciam mais tão verdes. As folhas, de repente, se tornaram pés, e o horizonte desapareceu. … Continue lendo Paisagem
Diz a ela que me viu chorar
Metade da minha vida atrás, quando eu tinha 17 ou 18 anos, estive muito perto de onde vivo hoje. Explico a confusão entre espaço e tempo: na época, eu andava, junto a um grande número de jovens punks ou quase, pelas imediações do bairro onde hoje vivo. Fazia algo que naquele momento não me parecia … Continue lendo Diz a ela que me viu chorar