O Sandro, com sono, não via o Miguel imitá-lo por baixo da máscara branca, dessas de farmácia. A Ana e a Marta, de máscara rosa, faziam pose pra tirar uma selfie juntas, tentando superar as duas carteiras obrigatórias de distância. O Ramon atirava bolinhas e dava risada, que ninguém via por conta da máscara personalizada com a foto da família orando na igreja que o pai mandou fazer. O Diogo, com os velhos problemas de dicção, estava ainda mais ininteligível com aquela máscara azul celeste do Manchester City. A Bianca, impaciente, mexia sem parar nos elásticos da máscara preta, feita de algum resto de camiseta. E o Sérgio debruçado na carteira, cheio de raiva, máscara com a bandeira do Brasil.
– A Amanda?
– Não veio, professor. A mãe dela não teve dinheiro pra comprar máscara.
(miniconto selecionado no concurso Arte como Respiro: Múltiplos Editais de Emergência – Literatura, promovido em 2020 pelo Itaú Cultural)
A DO REI. Muito triste, mas fazer o quê?
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